sábado, 5 de setembro de 2009

Fichamento; Históra da Arte Como História da Cidade.

-Introdução; avaliação e valores.

Uma vez que as obras de artes são coisas às quais está relacionado um valor, há maneiras de tratá-las; exibi-las, comprá-las, vendê-las ou pesquisar em que consiste, reconhece e usufrui seus valores. O interesse pelo valor transcende os fatos isolados e generaliza o conhecimento da arte em proposições teóricas. Trata-se de diferentes interpretações da arte.
Para enquadrar o conhecimento da arte é preciso recorrer à reprodução ou repetição dos procedimentos com os quais se faz a mesma. Também no estudo das obras de arte, admite-se que a investigação filosófica ou erudita ocupa-se de verificar ou restituir a interpretação dos significados e valores. Ao contrário da análise empírico-científica da obra de arte em sua realidade de coisa, a pesquisa histórica nunca é circunscrita à coisa em si.
Na pesquisa, a obra é analisada em seus componentes naturais. Cada obra não apenas resulta de um conjunto de relações, mas determina um campo de relações que se estendem até o nosso tempo e o superam. O que avaliamos não é um tipo de obra, mas um tipo de processo, uma maneira de relacionar-se. É um juízo histórico que não encerra, mas abre a investigação. O problema que nos interessa diz respeito a considerar à possibilidade e à necessidade de uma história especial da arte, que explique através de uma metodologia específica, sua historicidade peculiar.
O dinamismo estrutural da obra de arte é, portanto, o da relação funcional entre a operação técnica e o mecanismo da memória e da imaginação. A primeira tarefa de toda disciplina é a delimitação de seu campo de pesquisa. O primeiro ato de quem quer estudar a arte é separar os fenômenos artísticos dos fenômenos que preenchem o “mundo da vida”. A distinção entre os fenômenos artísticos e naturais não é problema: imita-se aquilo que não se é; se a arte fosse “natural”, não imitaria a natureza.
Para colher a diferença entre o ponto de vista científico e o ponto de vista histórico, é necessário recorrer a fenômenos absolutamente heterogêneos, ao menos no que cada um concorre para explicar os outros.
A história da arte não reconstrói um desenvolvimento progressivo.

- História da arte versus política na cidade.

Se disséssemos que a arte é um componente essencial do sistema cultural burguês, estaríamos reduzindo-a a um âmbito étnico e cronológico certamente por demais restrito. Em toda a sua história, a arte sempre se encontra no pólo oposto do poder carismático e do dogmatismo político. Como atividade ligada desde as mais remotas origens à burguesia, a arte aparece como uma atividade tipicamente urbana. Por cidade não se deve entender apenas um traçado regular dentro de um espaço, uma distribuição ordenada de funções públicas e privadas, um conjunto de edifícios representativos e utilitários. Tanto quanto o espaço arquitetônico, com o qual de resto se identifica, o espaço urbano tem seus interiores.
Colocada a arte como atividade típica da burguesia, é preciso reconhecer também que a crise atual da arte nada mais é que sua dissociação da burguesia no poder. A primeira rachadura coincide com o momento em que uma parte da burguesia investe suas riquezas nas iniciativas de força do poder, nas guerras. É então que a arte deixa de ser o padrão máximo de valor, função esta que é assumida pela moeda. Hoje em dia a moeda já não é sequer valor, mas apenas marca ou símbolo de poder.

- Métodos, arte, artista; história/estudo.

Só nos períodos considerados clássicos, a história da arte tende a ligar-se à história política entendida como história da sociedade, e não dos poderosos. O mundo interior daquela burguesia consciente da sua insuprimível liberdade, não é um mundo de causas e efeitos, mas de oportunidades, possibilidades, eventualidades, combinações imprevisíveis; um mundo de imagens, bem mais do que formas. Não apenas imagens provenientes do filão inesgotável do antigo, mas também as que dependem da experiência sensorial encontram-se amontoadas confusamente na imaginação do artista.
Mas mesmo limitando-a ao sujeito, a pesquisa iconológica é parcial e subsidiária. À medida que a pesquisa avança, os temas icônicos tendem a agrupar-se em poucas temáticas que se encontram em todas as épocas e em todas as culturas. Para concluir, é preciso antes de tudo reconhecer ao método iconológico o mérito de ter colocado todas as premissas para a superação do limite eurocêntrico da história da arte, tendo em vista, o fato de que nos últimos cem anos, verificou-se uma transmigração de obras dos países da antiga civilização para a América.
Formaram-se grandes coleções particulares, que com o tempo tornaram em sua maior parte, museus públicos. O museu é, ou deveria ser um aparato científico; os objetos não apenas são expostos, mas estudados, catalogados, restaurados. Logo, tudo aquilo que, no mundo, se conserva como artístico seria cientificamente enumerado, catalogado, definido, fotografado, publicado. O problema metodológico é, também, um problema operacional, de equipamento de trabalho. Degradar as disciplinas humanísticas ao papel de um anacrônico artesanato cultural sobrevivente não significaria preservá-las da contaminação tecnológica, mas votá-las a um rápido fim. O historiador da arte que trabalha em/com módulos de representação mecânica, não raciocina mais como o historiador de há um século.
A divergência entre o pesquisador de coisas e o pesquisador de significados não corresponde àquela que era dada, há algum tempo, entre o erudito e o historiador. No fundo, por ser a história a estrutura da existência associada, o domínio da pesquisa histórica aparece hoje mais extenso do que no passado, a ponto de não mais poder ser explorado com os meios tradicionais.
Retornando à distinção colocada de início entre as coisas que têm valor e o valor das coisas, nem sequer poderia dizer que o cientista puro é aquele que se ocupa apenas das coisas e o historiador puro é aquele que se ocupa apenas dos valores. A renovação radical dos procedimentos metódicos e do ensino é, hoje, para a história da arte uma questão de vida ou morte.

- Conclusão final.

Hoje, a história da arte, como a única história que se faz em presença do fenômeno, é um ponto de contestação, o obstáculo que procuram de todas as formas remover aqueles que, persuadidos de que a teoria da informação suplantou a antiquada metodologia da história, têm necessidade de assegurar-se de que a presença do fenômeno impede a história. Mesmo porque, afinal, a história é crítica e o poder não a ama.

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